Ao retornarem às atividades, lideranças empresariais precisam ter sensibilidade para lidar com reflexos do isolamento, como preocupações em excesso, ansiedade, medo em relação ao futuro e luto.

Com a flexibilização das medidas de isolamento, as empresas começam a se movimentar para voltar às atividades e retomar o convívio no ambiente de trabalho. Mas o momento exige atenção quanto aos efeitos deixados pela pandemia no que diz respeito à saúde emocional dos colaboradores e dos próprios gestores.

“O contexto da Covid-19 pode ser comparado a outros momentos histórico-sociais, de guerras ou de epidemias”, contextualiza a psicóloga e autora do livro Mindset – liderança estratégica, Léia Wessling. “Emoções humanas básicas, como a tristeza e o medo, associadas ao isolamento social (e, em alguns casos, ao isolamento afetivo), desencadeiam sentimentos como negação, raiva, ansiedade, culpa ou mesmo solidão”.

Esses sentimentos são parte da natureza humana, porém, “quando exacerbados, podem gerar ou mesmo acentuar crises de estresse, depressão, pânico, além de desencadear comportamentos agressivos”, explica a psicóloga. Para construir um ambiente de trabalho saudável e positivo, esses aspectos não podem ser ignorados.

“As lideranças têm uma responsabilidade ampliada no que se refere ao enfrentamento, pois precisam exercer tanto o autocuidado quanto o cuidado com as equipes, os demais públicos com os quais se relacionam e os recursos que sustentam empresas e comunidades”, esclarece. A autora lista os atributos essenciais aos gestores no cenário atual: presença, verdade e coragem.

A presença se refere à observação, à escuta e à interação racional e emocional com todos aqueles que fazem parte do contexto organizacional, como funcionários (e seus familiares), clientes (e suas demandas), fornecedores (e suas necessidades).

Verdade significa buscar e compartilhar informações claras, para construir uma relação de confiança. “Ser transparente com a situação e as necessidades próprias e da empresa reduz os níveis de estresse, permite que a atenção seja direcionada para fatos e objetivos claros e aumenta a sinergia e a capacidade de tomada de decisão”.

Segundo Wessling, na crise, a terceira característica, a coragem “está relacionada à resiliência, ou seja, à capacidade de, ao mesmo tempo, suportar, enfrentar e recriar estratégias, utilizando recursos físicos e psíquicos para flexibilizar os modelos de trabalho e de relacionamento”.

A empresa precisa respeitar a forma como cada um dos funcionários prefere enfrentar a situação e, em paralelo, “sensibilizar a todos para as questões de saúde física e emocional”, orienta. “É indicado utilizar os meios de comunicação interna para prevenção e informação voltada a todos os colaboradores”.

Equilíbrio é a chave

A fundadora do Appana Território de Aprendizagem e consultora em educação executiva, Káritas Ribas, lembra que momentos e situações complexos não têm saídas simples. “É hora de dar pequenos passos e analisar cada passo dado”, recomenda, alertando os líderes para evitar a armadilha de tentar simplificar demais, sem resolver, de fato, questões profundas que estão vindo à tona.

Entretanto, a especialista pondera que é preciso buscar o equilíbrio: adotar iniciativas de resolução imediata para o que é, de fato, mais fácil de lidar, e uma postura reflexiva para gerenciar situações complicadas. Ela afirma, inclusive, que algumas questões não são passíveis de resolução, mas, sim, de gerenciamento. As relações interpessoais no ambiente de trabalho normalmente se encaixam nesse grupo.

Isso torna fundamental o fortalecimento do diálogo e dos processos participativos nas empresas. “Os líderes se sentem pressionados a dar soluções para as coisas e é preciso reconhecer que não temos todas as respostas”, argumenta Ribas.

Trazer as equipes para o diálogo e para opinar sobre como enfrentar momentos desafiadores ajuda a construir uma sabedoria coletiva, que pode ser considerada na tomada de decisão dos gestores. “Estimular e fazer uso da inteligência coletiva é a melhor opção para questões complexas. Ninguém consegue ver o todo”, justifica.