As empresas tiveram de se adaptar rapidamente aos novos hábitos de compras impostos pela pandemia de Covid-19. A crise acelerou mudanças que já estavam em curso e que não podem mais ser negligenciadas.

O isolamento social colocou em xeque toda a nossa rotina, alterando a forma como trabalhamos, aprendemos, compramos e nos divertimos. Entender os efeitos dessas mudanças será o ponto decisivo para as empresas se fortalecerem no pós-crise.

A professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM Rio, Bianca Dramali, contextualiza que a pandemia aumentou o volume de compras online, estimulou o consumo de conteúdo digital e fomentou as interações virtuais. A tecnologia, portanto, desempenha um papel central nesse momento.

Tendências pós-quarentena

Além da projeção dada à tecnologia e à digitalização, a pandemia revelou a importância da responsabilidade social das empresas. Dramali pontua que as marcas devem se guiar por valores como autenticidade, coerência, transparência, cuidado, relacionamento e ação.

O foco deve recair sobre propósitos autênticos. “O que as marcas poderiam fazer agora é um exercício de reflexão sobre quem são e qual é o lugar delas no mundo”, aconselha a especialista. “Com esse exercício de autoconhecimento, serão capazes de definir – e comunicar – um posicionamento coerente, que realmente construa um diferencial consistente em relação aos concorrentes”.

Sobre as tendências de consumo, a professora da ESPM Rio avalia que a ominicanalidade será decisiva para integrar toda a jornada do consumidor, considerando canais online e ponto de venda físico.

Algumas rotinas adotadas pelas pessoas ao longo do período de isolamento podem estimular novos hábitos, esclarece Dramali. “O do it yourself – ou faça você mesmo – pode permanecer em alguns setores”, exemplifica.

Outra possibilidade é o movimento de consumo minimalista. “A noção de utilidade pode ser revista. O volume de itens e bens pode ser repensado em termos de ser ou não essencial para cada um”. Nesse cenário, ganham evidência, ainda, a economia compartilhada e o consumo consciente.

“Haverá também uma demanda reprimida por produtos e serviços considerados como não essenciais”, pondera Dramali. “Como afirma a consultoria Bain & Company, produtos de beleza, roupas e calçados, que tiveram uma extrema retração em consequência do isolamento, podem se beneficiar do que os especialistas chamaram de ‘consumo de vingança’, como se os consumidores quisessem compensar o desejo que precisou ser reprimido”.

Comunicação e transparência

A CEO de insights da Kantar Brasil, Valkiria Garré, sublinha que a troca de informações ganha centralidade em contextos de crise, como o da pandemia de Covid-19, que força muitas marcas a refletir sobre que tipo de comunicação devem ter e como devem agir. O cuidado deve ser tomado no sentido de evitar mensagens que possam ser mal interpretadas ou conteúdos que possam gerar desserviços.

A pesquisa Barômetro Covid-19, realizada pela Kantar Brasil, demonstra que 88% dos brasileiros concordam que as marcas devem continuar investindo em comunicação para informar sobre seus esforços a fim de enfrentar a situação. Outro ponto mencionado por 86% dos entrevistados é que as empresas precisam falar sobre como podem ser úteis na vida cotidiana de seus consumidores.

BOX:

Atitudes em meio à crise

A pesquisa da Kantar Brasil demonstra as atitudes que os consumidores brasileiros esperam das empresas. Confira.

Iniciativa Primeira menção
Preocupar-se com a saúde de seus funcionários 67%
Favorecer o trabalho flexível 18%
Promover o uso de ferramentas de comunicação digital no trabalho 4%
Fazer doações para apoiar a pesquisa científica 3%
Fazer doações para apoiar a compra de materiais para hospitais 2%
Disponibilizar-se ao governo para entender como podem ser úteis 2%
Ajudar seus consumidores oferecendo descontos e promoções 1%
Proteger o fornecimento de serviços e produtos aos consumidores 1%
Configurar call centers para responder às perguntas dos consumidores 1%