Formado pelas iniciais das palavras volátil, incerto, complexo e ambíguo, em inglês, o termo Vuca vem se popularizando no mundo corporativo por sintetizar o cenário imprevisível em que vivemos.

De acordo com o CEO da ZenEconomics Desenvolvimento de Pessoas, Luiz Fernando Roxo, a expressão “Mundo Vuca” foi criada pelo exército norte-americano na década de 90 que, ao se confrontar com o terrorismo, percebeu que o próprio sistema militar não funcionava mais para essa conjuntura extremamente disruptiva e acelerada. “E eles estavam certos, visto que hoje a variação das coisas é muito maior, acabou a estabilidade antiga”.

Sobrevivência

No ambiente corporativo, o termo vem sendo empregado em referência à realidade atual, em que os fatores responsáveis por tornar uma empresa bem sucedida agora podem não assegurar o mesmo resultado amanhã. Por esse motivo, só as organizações que estiverem preparadas para enfrentar o desconhecido e situações insólitas e caóticas irão sobreviver. Coisas que estão sendo feitas hoje vão se tornar obsoletas em pouquíssimo tempo. “Tudo está mudando em velocidade acelerada e com destino incerto, proporcionando várias respostas para uma mesma questão. O mundo atual é feito de riscos altos, necessidade de inovar e compreender oportunidades, superação de novos desafios e abertura constante às possibilidades em um ambiente de incertezas”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Dom Cabral, Marcelo de Elias.

Ele argumenta que, atualmente, é preciso se reinventar a todo o momento, dada a enorme velocidade das mudanças. “O que antes dava certo, hoje nem sempre funciona mais. Por isso, os profissionais devem buscar novas formas de lidar com as mudanças de maneira criativa e eficaz. Uma das percepções sobre as prováveis causas de tantos problemas de não adaptação das empresas às novas demandas é a repetição do ‘velho’. Tudo porque os gestores acabam se conformando em ficar repetindo as ações passadas, sem perceber que as coisas mudam e que o fato de algo funcionar bem até ontem não é garantia de que continuará dando certo. É importante que empresários, gestores e profissionais tenham uma visão de ‘inconformismo’ aliada ao pensamento disruptivo e ao desapego às velhas certezas”.

Antifrágil

A professora da HSM Educação Executiva e diretora da Imaginar Solutions Consultoria, Solange Mata Machado, enfatiza que viver no mundo Vuca implica tornar-se ágil, como o desenvolvimento de softwares, e antifrágil. “O ágil se adapta rapidamente e o antifrágil representa os sistemas que se beneficiam do caos.”

Um dos principais teóricos sobre o tema, Nassim Nicholas Taleb, afirma que hoje não é mais suficiente ser como a Fênix e renascer das cinzas: é preciso ser como a Hidra de Lerna, que, ao ter uma de suas cabeças cortadas, cria duas novas em seu lugar. “São empresas ágeis, flexíveis, descentralizadas, com mais autonomia e empreendedoras que se adaptam rapidamente às mudanças. Isso significa que as empresas terão de aprender a ler os cenários para se anteciparem aos acontecimentos do Vuca, criando novas soluções ou modelos de negócio. A Netflix, por exemplo, reinventou-se antecipadamente e conseguiu sobreviver à entrada do streaming no mercado, enquanto a Blockbuster, líder de home vídeo, acabou desaparecendo”.

Desafios x possibilidades

Na opinião de Elias, tais mudanças aceleradas têm proporcionado às empresas e profissionais uma série de desafios e dificuldades, e, simultaneamente, várias oportunidades e possibilidades. “Isso independe do segmento ou porte da organização, mas é claro que, nesse contexto, duas capacidades são determinantes para o sucesso: velocidade e flexibilidade. São competências facilmente encontradas nas pequenas empresas devido às suas estruturas e modelos de gestão”, considera.

Para o especialista, pequenas empresas conseguem tomar decisões mais rápidas: as hierarquias enxutas e as fronteiras inexistentes entre as pessoas fazem com que elas se tornem, muitas vezes, responsáveis por importantes tomadas de decisões, independentemente de quais sejam seus cargos. Além disso, como a distância entre os níveis estratégicos e operacionais é bem menor que nas grandes corporações, muitos desafios têm respostas quase imediatas. “As estruturas achatadas e mais simples fazem com que as empresas menores tenham uma comunicação mais rápida e fácil, fluindo eficientemente em todas as direções. Isso é uma vantagem importante, pois, onde a comunicação flui melhor, o trabalho em equipe é simplificado, as pessoas são mais envolvidas com as decisões e possuem mais informações sobre a empresa, descomplicando qualquer processo de aprendizado. Então, para as pequenas empresas aproveitarem esses seus atributos naturais, elas não podem burocratizar e engessar seus processos internos. Pelo contrário, devem garantir fluidez e leveza”, orienta.

Elias esclarece ainda que, há algum tempo, a resiliência era vista como a capacidade de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Isso supunha uma condição de sempre voltar a ser como era antes. “Hoje prefiro chamar de ‘resiliência evolutiva’, ou seja, ao passar por uma situação de dificuldade, precisamos voltar melhores do que éramos antes: mais maduros e com novas habilidades e aprendizados. Por isso, precisamos enxergar os erros não como fracassos, mas como grandes lições para aprimorar os novos modelos e ideias, garantindo mais inovação e novas oportunidades. Errar rápido para aprender rápido é um novo pensamento de um mundo altamente disruptivo, que requer o incentivo às novas práticas e a aceitação de erros honestos como caminho para resultados ainda melhores”, enfatiza.

Mini-glossário
  • Agilidade: habilidade para mudar de rota e para adaptar-se rapidamente.
  • Ambiguidade: imprecisão e multiplicidade de significados nos acontecimentos.
  • Antifragilidade: competência para aperfeiçoar-se com as adversidades enfrentadas.
  • Complexidade: impossibilidade de estabelecer claramente a relação entre causa e efeito de um problema.
  • Flexibilidade: capacidade de adaptar-se a cenários imprevistos e abertura para abandonar fórmulas prontas e vislumbrar as diversas soluções possíveis.
  • Incerteza: imprevisibilidade dos resultados futuros, já que os dados atuais não servem para projetá-los.
  • Volatilidade: instabilidade, situações inesperadas que exigem mudanças rápidas.
  • Vuca: letras iniciais das palavras inglesas volatility, uncertainty, complexity and ambiguity (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade).