Interromper, definitivamente, o funcionamento de uma empresa é uma iniciativa que depende da avaliação de indicadores capazes de apoiar uma decisão racional.

A análise de viabilidade econômica do negócio ganhou uma importância maior com o surgimento da pandemia de coronavírus. A epidemia mundial afeta empresas de duas formas: uma é decorrente das medidas de distanciamento social, que interromperam uma série de atividades, e outra é reflexo de mudanças profundas que atingem inúmeros mercados e o próprio comportamento dos consumidores.

“Se um restaurante é voltado para o atendimento de determinado público comercial, vale a pena avaliar se e quando esse público voltará a consumir, uma vez que grandes empresas (algumas com milhares de profissionais em um único escritório) já estenderam o home office até o final de 2020”, exemplifica o sócio da Divisão de Advisory Services da PP&C Auditores Independentes, Marcos Rodrigues.

Ele argumenta que o estudo de viabilidade econômica passa tanto pelas questões financeiras como pelas operacionais. O diagnóstico, esclarece, segue as mesmas bases que fundamentam a abertura de um negócio, quando são observados pontos cruciais como “tamanho do mercado, disponibilidade de profissionais, concorrentes, know-how, necessidade de caixa e de estoques, etc.”.

Para Rodrigues, “a falta de caixa é um dos principais indicadores de que uma empresa deve repensar o negócio e analisar se é o momento de encerrar as operações ou não”. Isso porque, segundo o auditor, “em algumas situações, fechar o empreendimento e depois reabrir é mais barato do que manter a empresa com as atividades suspensas por determinado período”.

A decisão não necessariamente deve ser sobre a falência do negócio, ela pode ser apenas sobre o encerramento, a forma de operação (passando de uma estrutura física para uma estrutura online, por exemplo) ou até a redução de tamanho, explica. Independentemente do caminho escolhido, é necessário planejamento e atenção às obrigações assumidas com terceiros. “Por isso, é importante contar com uma boa assessoria contábil e financeira”.

O fundamental é que o empresário seja ágil em fazer esse exame, para tomar a melhor decisão, no momento certo. “Se a atitude for tomada de forma tardia, pode, sim, levar a uma situação de insolvência e até de falência, ocasionando perdas para sócios, empregados, fornecedores e todos os demais envolvidos. Como dizem no mercado financeiro: a menor perda é a primeira”, orienta.

Passado, presente e futuro

O momento atual reflete apenas uma dimensão do negócio: o presente. O professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV), Rubens Massa, salienta que a empresa precisa ser analisada para além da situação corrente.

“É precipitado dizer que é o momento de fechar quando a empresa não tem caixa. Existem negócios extremamente lucrativos que só dependem de investimento”. Por outro lado, o professor avalia que “se o momento atual apenas agrava uma situação que já era ruim, o encerramento pode ser considerado”.

Tão importante quanto refletir sobre essas perspectivas é buscar desenvolver novas habilidades para enfrentar o momento presente, as chamadas soft skills, que “consistem em flexibilidade e capacidade de aprendizado contínuo” por parte do empresário. “A crise trouxe mudanças de comportamento e acelerou o processo de transformação digital. Foi um avanço de cinco anos em cinco meses”, afirma.

O professor considera a crise atual diferente das ocasionadas pela Segunda Guerra Mundial ou pela gripe espanhola, pois, nos cenários anteriores, as relações de mercado eram mais simples. “Hoje, o empresário enfrenta uma concorrência global e existe uma necessidade maior de profissionalização”. Empreendimentos que se estruturaram de forma improvisada tendem a não sobreviver a essa realidade.

“O que vem definindo negócios que conseguirão atravessar a crise não é o segmento ou o fluxo de caixa, mas a mentalidade do empreendedor”, alerta Massa. Empresários que desenvolveram a criatividade, a flexibilidade e que aprenderam a aprender sairão na frente.