Profissionais e empresários que tiveram atividades impactadas pela pandemia de Covid-19 contam como encontraram outras frentes de atuação diante da crise e iniciaram uma nova trajetória.
Quando a pandemia chegou ao Brasil, o ator Jackson Costa estava em cartaz no Teatro Vila Velha (Salvador, BA), com o espetáculo A tempestade. Além da peça, iria iniciar, em abril, as gravações de um novo filme. De uma hora para outra, todos os projetos foram paralisados. Rapidamente, Costa improvisou um teatro na sala de casa, espaço que usou para homenagear o ator Mário Gusmão e para fazer lives pagas (a primeira reuniu mais de 90 espectadores).
O ator também aproveitou a quarentena para se dedicar a outra atividade, totalmente fora de sua área de atuação profissional: a panificação. Adepto da alimentação natural, Costa costuma fazer o próprio pão integral, que já havia fisgado o paladar de alguns amigos, como a cantora Margareth Menezes. Foi ela quem fez a primeira encomenda e divulgou o produto nas redes sociais em seguida. Desde então, os pedidos não pararam mais de chegar. Assim nascia a Graúna Pão e Poesia, que entrega produtos artesanais acompanhados de um poema escrito à mão.
“Vendemos pães, antepastos, tortas, bolos e doces. Quando passar a quarentena, pretendo conseguir um lugar para vender esses produtos, mas que também tenha um espaço para música, poesia, lançamento de livros e até para ministrar um curso de teatro”, comenta.
Assinatura de flores
Um gesto de solidariedade fez com que as empresárias Juliana Raimo, Camila Whitaker e Claudia Rodrigues, que atuam no ramo de eventos, descobrissem uma nova linha de negócios para o empreendimento que tocam juntas. Pouco tempo depois do anúncio das medidas de isolamento, elas pensaram em presentear amigos e clientes com buquês de flores, na Páscoa. A ação foi uma forma de apoiar produtores de flores, fortemente afetados pela paralisação do setor.
“Na ocasião, algumas pessoas nos perguntaram se estávamos entregando flores e nós respondemos que sim”, conta Raimo. Elas então resolveram abrir um ateliê floral para a produção de buquês temáticos e vendas por assinatura. “Investimos R$ 300,00, desenvolvemos uma embalagem, estudamos como entregar e fomos nos adaptando”, detalha.
As empresárias estão aproveitando o período para estruturar, gradualmente, o negócio, que será mantido após a pandemia. O caminho que encontraram para se posicionarem no mercado de forma competitiva foi negociar com fornecedores e concentrar o envio dos buquês vendidos por assinaturas em um único dia da semana.
Ocasiões especiais, como Dia das Mães e Dia dos Namorados, geram um movimento maior. Além disso, as empresárias fazem entregas de encomendas avulsas, com custo maior para o cliente. “Estamos insistindo em criar o hábito, o que é favorecido pelo preço da assinatura, mais acessível”, afirma Whitaker.
Streaming infantil
Tradicional no Rio de Janeiro, o Clubinho de Ofertas, site de bilheteria digital destinado à venda de ingressos para espetáculos infantis, iniciou o ano de 2020 ampliando sua participação no mercado de São Paulo. Isso até as atividades culturais serem suspensas. Foi nesse momento que a empresária Grasiela Camargo decidiu investir na criação de uma plataforma de streaming.
“Sempre pensava em quantas crianças deixávamos de impactar por causa da falta de um teatro na cidade, por exemplo”, diz. Isso deu origem ao canal online Clubinho Play, inaugurado em junho.
Pelo streaming, o público consegue assistir peças teatrais, shows de mágica, espetáculos circenses, musicais, entre outros conteúdos culturais. O canal funciona por assinatura, com custo muito inferior ao de um ingresso tradicional.
A empresária vai manter as duas frentes de negócios e acredita que uma alimentará a outra. O streaming pode despertar o interesse de crianças e famílias pelos espetáculos culturais, assim como a presença em um desses espetáculos pode alimentar o desejo de assistir novamente à apresentação em casa.
Guinada tecnológica
A Noknox é uma empresa que desenvolve soluções para espaços compartilhados. Ao longo de 2019, o negócio estava voltado a consolidar no mercado o principal produto da marca: a plataforma web e o aplicativo voltados para condomínios residenciais. “No final do ano passado começamos a adaptar o produto para coworkings e empresas. Era o grande foco deste ano”, contextualiza o head de produto da Noknox, Marcos Simeão.
“Com a pandemia, a dinâmica de compartilhar espaços mudou”, esclarece o executivo. “Desaceleramos o desenvolvimento de alguns produtos que tínhamos na linha corporativa e voltamos o olhar para a casa”.
O plano de negócios precisou ser revisto rapidamente e logo o time percebeu que havia novas demandas a atender. Assim foi criado o aplicativo “Vizinho do Bem”, que conecta pessoas que precisam de ajuda com quem quer auxiliar.
Para os usuários da plataforma Noknox em condomínios, o grupo desenvolveu o que chamam de botão de emergência. “O usuário morador aciona e toda a administração do condomínio é comunicada”, explica.
A terceira iniciativa do grupo foi o lançamento de mercadinhos em condomínios, para vender produtos de cesta básica. “O morador faz a transação pelo próprio celular, usando um QRCode”.
Dos brinquedos aos totens
A Nogueira Brinquedos, empresa que tem 26 anos de mercado, vivia um momento de expansão quando a pandemia surpreendeu o proprietário do negócio, David Gaspri. Alguns projetos estavam em andamento, pois os brinquedos são fabricados por encomenda, com prazo que varia entre 30 e 90 dias. “Vendemos bem até a metade de março. Depois, parou totalmente e ficamos sem serviço”.
Como a empresa possui maquinário para fabricar itens diversificados, logo começaram a surgir pedidos para o desenvolvimento de totens de álcool gel. “Organizamos nossa linha de produção e criamos um produto com preço competitivo”, relata.
A Nogueira Brinquedos fabrica de 100 a 150 peças por dia e já vendeu mais de mil totens desde que a produção foi iniciada, no final de maio. Agora, a empresa está aprimorando a solução para oferecer totens de álcool gel que também façam a medição de temperatura.