O isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 levou muitos negócios a aderirem ou intensificarem o uso de recursos tecnológicos para viabilizar a realização de home office e o comércio eletrônico.

A necessidade de adotar rapidamente novas ferramentas tecnológicas, seja para a realização de compras e atividades escolares, seja para contatos profissionais, consolidou as mudanças que já estavam em curso na sociedade. Agora, estar alinhado a esses processos não é mais um diferencial, mas uma exigência do mercado.

“Empresas que já investiam em tecnologia deram, certamente, respostas mais rápidas à crise provocada pelo coronavírus”, comenta a professora e coordenadora pedagógica de cursos da Fundação Instituto de Administração (FIA) e pesquisadora do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São Paulo (USP), Ivete Rodrigues.

“As empresas que estavam atrás na adoção de tecnologias digitais estarão diante de um trade-off: investir na redução de custos operacionais para fazer frente aos problemas econômicos que virão ou apostar em novas tecnologias, que permitam o trabalho em home office e o e-commerce”, pondera a professora. “Trata-se de uma decisão complexa, posto que as empresas têm que agir em um cenário incerto e de mudança de comportamento dos consumidores”.

É possível, entretanto, chegar a um consenso viável, afirma Rodrigues. O primeiro passo é analisar processos operacionais, a fim de identificar gargalos e ineficiências. “Com isso, as empresas poderão fazer uma melhor gestão de custos, de forma que, mesmo diante da recessão econômica, consigam realizar um planejamento de investimento em tecnologias digitais”. A sugestão é procurar por opções mais em conta, como as desenvolvidas por start ups, e recorrer a linhas de financiamento governamentais, com juros menores.

A adequação, mesmo a recursos mais disseminados, como o home office, não é algo simples e requer aportes em recursos materiais, gestão de processos, além de alinhamento às legislações sobre o tema. “Colocar os profissionais em home office não é algo trivial. A prática tende a ser mais difundida entre as empresas que já vinham fazendo investimentos com essa finalidade”, destaca.

“Considerando a crise econômica que se avizinha, empresas, principalmente pequenas e médias, terão dificuldades para fazer os investimentos necessários à adoção de home office”, avalia Rodrigues. “No que tange às vendas e negociações online, deverá haver uma maior difusão, pressionada pelos próprios clientes”.

Retorno do investimento

Em um primeiro momento, incorporar as novas tecnologias pressupõe assumir o desafio de promover uma mudança cultural na empresa, associada a investimentos financeiros. No médio e longo prazo, no entanto, a iniciativa mostra-se acertada, conforme sustenta o coordenador acadêmico do curso de Gestão de TI da FIAP, Cláudio Carvajal.

“Aliada à estratégia, a inovação tecnológica pode contribuir com a redução de custos, o aumento da eficiência e a análise de dados, gerando informações que melhoram a tomada de decisões”, explica. Para obter essas vantagens é importante que a empresa alinhe os investimentos ao planejamento global do negócio. “Em paralelo, é preciso desenvolver uma cultura voltada à inovação.

Vivemos um momento de grandes mudanças e a inovação é uma atividade essencial em qualquer empresa”, argumenta Carvajal.

O maior desafio é “recuperar o tempo perdido”, aponta o CEO da Inova Consulting e da Inova Business School, Luis Rasquilha. “Algumas organizações terão bastante dificuldade em fazê-lo, pois não consideraram o investimento relevante no passado e demorarão a conseguir ultrapassar essa barreira agora, com o pânico da situação atual”, adverte, ao falar sobre a importância da cultura digital.

Para Rasquilha, começar essa jornada o quanto antes é o melhor caminho para se preparar. “É fundamental que as empresas entendam onde estão e que definam para onde irão no pós-Covid. Devem, urgentemente, começar a dedicar recursos humanos, financeiros e técnicos para a área tecnológica, sob pena de ficarem mais atrasadas do que estavam antes dessa crise”.