O ritmo de retomada da economia, em 2021, será ditado pelo processo de vacinação. Mesmo que os primeiros meses sejam de retração, a expectativa é de um segundo semestre melhor para todos os setores.

A economia brasileira caiu 4,1% em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A redução é significativa – a maior desde o Plano Real –, mas inferior à projetada pelos economistas no início da pandemia. “A queda no primeiro semestre de 2020 foi muito intensa; a economia praticamente parou”, contextualiza a pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), Luana Miranda.

“Mas alguns setores ajudaram a recuperação a vir mais forte do que o esperado. Vimos o comércio e a indústria se recuperando muito rapidamente”. A economista exemplifica que a indústria, em setembro, já tinha recuperado os níveis pré-crise, atingindo desempenho próximo ao de fevereiro de 2020.

Miranda pondera, entretanto, que, ao contrário do setor de bens (consumo e produção de bens), “o setor de serviços vem demorando bastante para conseguir se recuperar”. Representando 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e abrangendo segmentos como turismo, hotelaria, bares, restaurantes, eventos e transportes, esse é o setor mais dependente da vacinação, que permite flexibilizar as medidas sanitárias. “Em 2021, devemos ter dois ritmos de recuperação da economia brasileira”, sinaliza. “O primeiro semestre deve ser mais difícil, porque temos uma segunda onda em andamento e lockdown em vários Estados”. O cenário trava ainda mais a difícil situação dos serviços.

Outra preocupação é com a queda na renda das famílias. No ano passado, o auxílio emergencial conseguiu evitar que isso acontecesse. “Nossas conclusões são de que se não houvesse medidas do governo, a massa de rendimento das famílias (composta pela renda do trabalho, previdenciária e assistência social) cairia quase 6%, mas, na prática, cresceu pouco mais de 3%”.

No primeiro trimestre de 2021, os dados indicam redução da renda das famílias somada à inflação mais alta e ao desemprego elevado. “Devemos ter uma deterioração da renda real das famílias, o que deve prejudicar, também, a recuperação do setor de bens”, avalia Miranda. A perspectiva é de que o primeiro semestre seja de retração.

Ao longo do segundo semestre, o ritmo de recuperação deve ganhar força, “se houver um contingente significativo de pessoas vacinadas”, salienta. Isso permitirá que o consumo de serviços se intensifique, promovendo um crescimento mais sustentável ao longo do segundo semestre. A projeção do FGV Ibre para o PIB de 2021 é de alta de 3,4%.

Indicadores positivos

O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Vaner Corrêa Simões Júnior, acredita em recuperação mais forte da economia no segundo semestre de 2021. Os primeiros meses do ano exigem prudência por parte dos empresários que estão lutando desde o ano passado para superar as dificuldades. “Tem que tocar o negócio de forma que se possa ter receita para, no mínimo, manter os funcionários trabalhando e ter uma pequena margem de lucro”, afirma.

No geral, Simões Jr. considera que há sinais positivos mostrando a saída da crise. O primeiro ponto, ressalta, é que a recessão não foi provocada por problemas na economia, como aconteceu em outros períodos, a exemplo das crises de 1929 e de 2008. “Estamos vivendo uma crise pandêmica, com suas ramificações que afetam todo o tecido econômico mundial”.

Conforme a vacinação e o controle da doença avançarem, a economia vai se destravar naturalmente. E já há indicativos nesse sentido. “O barril de petróleo aumentou bastante, e isso significa que a economia está sendo reaquecida. O dólar também dá sinais de redução, o que é bom no geral, ainda que diminua os preços na exportação, e os juros continuam em um patamar historicamente muito baixo, o que estimula o crédito. Havendo crédito fácil, a demanda pode crescer”.

O indicador mais relevante a ser observado durante este ano, porém, é a vacinação. “É a condição sine qua non”, assevera Simões Jr. “Começamos 2020 com uma paralisação provocada por uma doença mortal e entramos este ano com esperança”. O economista defende que o governo realize reforma do Estado – sobretudo administrativa e tributária – a fim de equilibrar as contas, reduzir a dívida pública e recuperar a capacidade de investimento.

Resposta, recuperação e sustentação

O sócio-líder de Respostas de Negócios para a Crise da Covid-19 da Deloitte, Ronaldo Fragoso, pontua que o processo de recuperação já foi iniciado. “A crise normalmente tem este ciclo: um momento de resposta e depois um momento de recuperação e sustentação”, esclarece. As respostas foram construídas pelas empresas desde o início do ano passado e aquelas que se mantêm no mercado estão adaptadas ao cenário e vivenciando a recuperação – um processo que não é uniforme, pois continua muito marcado por períodos de flexibilização intercalados com novas restrições.

Em novembro último, a Deloitte realizou um estudo para verificar as expectativas dos empresários brasileiros para este ano. O levantamento selecionou 663 empresas de 36 setores (a maior parte delas são prestadoras de serviços). A maioria dos entrevistados (42%) afirmou que a atividade econômica voltaria ao nível pré-crise em 2021 e, para 18%, o desempenho econômico superaria o do pré-crise.

“Existia uma perspectiva de que a retomada seria bastante forte a partir deste ano e o que aconteceu foi uma postergação”, resume Fragoso sobre os dados revelados pela pesquisa Agenda 2021, da Deloitte. “Eu acredito que isso seja algo temporal, porque tem um vínculo muito próximo com a questão do tempo e dos resultados da vacinação”, sustenta. Ou seja, a perspectiva dos empresários deve se concretizar. “A maior incerteza em relação a esse contexto é o prazo. Quem antes arriscava projetar um prazo acabou errando por causa da segunda onda”.

Fragoso sublinha que o ano passado foi de aprendizados. “As empresas aprenderam a lidar com a questão financeira e de caixa, a cuidar das pessoas e a usar intensamente a tecnologia”. São lições que serão mantidas no processo de superação da crise e que farão parte do legado dos negócios.