Retrabalhos, desperdícios e processos mal estruturados comprometem os resultados. Entenda como identificar gastos que não aparecem nos relatórios contábeis

Nem todo custo que pesa no caixa da empresa está visível nos relatórios financeiros. Há despesas que não aparecem nas demonstrações contábeis, mas corroem silenciosamente a lucratividade e comprometem o crescimento do negócio. São os chamados custos invisíveis, gerados por atividades cotidianas como retrabalhos, desperdícios, processos mal definidos e alta rotatividade de funcionários.

O professor de Finanças do Ibmec São Paulo, Cristiano Correa, explica que esses desvios normalmente estão vinculados à ineficiência operacional. Segundo o especialista, o problema é que muitas empresas não conseguem mensurar o impacto das falhas do dia a dia. “As ineficiências não são precificadas e acabam reduzindo o caixa. Você calcula a hora trabalhada de um colaborador, mas não considera as horas improdutivas. No fim, utiliza recursos que não estavam previstos na formação do preço”, diz.

Falta de controle

O sócio-diretor da Telys Educação em Negócios, Eliseu Eduardo Ely, afirma que a origem desses custos está na ausência de controles de gestão. “A maioria das empresas de menor porte é focada na operação (comprar, produzir e entregar), mas deixa de lado, muitas vezes, a gestão, que é o pensar estratégico do negócio”.

Sem instrumentos como o Demonstrativo de Resultados (DRE) e o Fluxo de Caixa, muitos empresários nem sequer sabem se a empresa é lucrativa. “A falta de informação impede decisões corretas. Sem dados confiáveis, o gestor trabalha no escuro”, alerta Ely.

“O que não é medido não é conhecido, e o que não é conhecido não pode ser melhorado”, reforça Ely. O especialista esclarece que a análise dos indicadores deve considerar a base do faturamento mensal e ser expressa, sempre que possível, em porcentagem.

O impacto da porcentagem fica claro quando temos valores como exemplo. Se uma empresa tem um desperdício medido de R$ 1 mil por mês, isso pode parecer aceitável para os gestores. Entretanto, se for visível que esse desperdício representa 10% do faturamento, que seria de R$ 10 mil mensais neste caso, a análise, o impacto e a forma de ver o problema mudam, enfatiza Ely.

Rotatividade

Entre fatores que impactam os resultados estão o uso contínuo de limite especial no banco, antecipação de recebíveis, juros por atraso e cálculo incorreto do preço de venda. A rotatividade de empregados também representa um custo relevante. O desligamento e a consequente nova contratação envolvem despesas com rescisão, seleção e treinamento, além da perda do investimento em capacitação.

“Quando um colaborador treinado deixa a empresa, todo o valor aplicado não foi diluído no tempo de permanência dele. É um custo invisível que poucos gestores consideram”, argumenta Correa.

Cultura de medição

Para enfrentar o problema, os consultores recomendam estruturar processos e adotar práticas simples de gestão. Padronizar rotinas e realizar reuniões periódicas de análise financeira ajuda a identificar gargalos e desperdícios.

“O primeiro passo é mapear os processos e entender onde o tempo e os recursos estão sendo desperdiçados”, orienta Correa, que ainda destaca a importância de envolver toda a equipe. “A cultura da medição precisa ser de todos. Quando o colaborador entende os indicadores e participa da análise, os resultados aparecem com mais rapidez”.

A tecnologia pode ser outra forte aliada. Ferramentas digitais e soluções de inteligência artificial permitem acompanhar produtividade e desempenho em tempo real, facilitando a tomada de decisão e a priorização de ações corretivas.

No entanto, é essencial compreender que tecnologia e processos só produzem resultados consistentes quando há comprometimento de quem conduz a empresa.
Ely ressalta que, com os indicadores incorporados ao dia a dia da operação, a empresa passa a agir de forma preventiva em vez de agir apenas corretivamente, reduzindo custos e aprimorando o desempenho. “Sem informação, não há estratégia nem plano de ação. Quando se passa a medir o invisível, ele se torna visível de fato para a gestão. É aí que começa a verdadeira melhoria”, conclui.