Está correndo o prazo para que empresas de pequeno porte, microempresas e MEIs adaptem sua página na internet ao Estatuto da Deficiência. Veja como fazer isso, na prática.

Hoje, as pessoas não precisam mais se deslocar para buscar informações, adquirir produtos e consumir serviços: podem fazer isso dentro de suas casas, pela internet. Contudo, uma parte grande da população brasileira é negligenciada na web: os deficientes e as pessoas com mobilidade reduzida, que não conseguem navegar livremente na rede mundial de computadores por conta da escassez de sites acessíveis. Um deficiente auditivo, por exemplo, precisa que vídeos sejam legendados. Já um cego depende de um software que converte o texto de uma página em áudio para entender o que está escrito, por isso, quando se depara, durante um cadastro, com o captcha – as imagens distorcidas com letras e números que você deve decifrar para certificar que não é um robô – não consegue prosseguir na navegação. “O poder da web está na sua universalidade. Todas as pessoas devem conseguir desfrutar dos recursos, serviços e informações disponíveis no meio eletrônico, inclusive as com deficiência temporária ou permanente”, afirma o professor do Departamento de Desenho Industrial da Universidade Federal do Espírito Santo e pesquisador de acessibilidade digital, Edson Rufino de Souza. Para ajudar a garantir esse direito, em 12 de junho, foi publicado o Decreto nº 9.405/18, que obriga os microempreendedores individuais e as micro e pequenas empresas a se adaptarem ao Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/15). Todos devem assegurar, entre outras coisas, condições de acessibilidade ao estabelecimento e ao site da empresa. O prazo para adaptar o endereço virtual é de 12 meses, desde a publicação do decreto, para empresas de pequeno porte, e de 18 meses para MEIs e microempresas.

Acessibilidade digital na prática

Para que um site seja acessível não são precisos recursos especiais ou tecnologia de ponta, apenas o emprego correto dos recursos disponíveis na linguagem HTML, o código que compõe e estrutura as páginas na internet. O especialista em Desenvolvimento Web do W3C Brasil, Reinaldo Ferraz, compara a construção de um site a de uma casa: “Se você pensar na acessibilidade desde o início do projeto, prevendo os batentes de portas mais largos, ausência de escadas, maçanetas adequadas e pisos antiderrapantes, ficará muito mais fácil e mais barato do que fazer as mudanças depois da casa construída. As boas práticas são simples”.

Alguns pontos são indispensáveis em sites acessíveis. Permitir a navegação inteiramente por teclado, e não só pelo mouse, favorece quem tem deficiência motora e também os cegos. Possibilitar a ampliação do texto da página e escolher cores contrastantes para fundo e letra ajuda pessoas com baixa visão a conseguir ler.

“As informações não devem ser transmitidas somente por cor. Pense em uma tabela de ônibus em que os vermelhos estão atrasados e os verdes estão no horário. Isso é uma grande barreira para quem não enxerga uma cor. O ideal é que essa informação esteja acompanhada de recursos adicionais, como um símbolo ou texto”, explica Ferraz. Todas as imagens do site devem conter legendas ou descrições com texto.

Também é importante que a estrutura do site tenha uma sequência lógica de navegação, já que as ferramentas utilizadas por pessoas cegas, como leitores de tela, leem o código da página sempre na mesma ordem, de cima para baixo.

Ao contratar um desenvolvedor de site para a sua empresa, busque alguém com experiência em acessibilidade na web. “Não é qualquer profissional que constrói sites que consegue realizar uma avaliação de acessibilidade de forma confiável, por isso, é importante pedir para ver os projetos que já foram feitos com essa especificidade”, recomenda Souza. Durante o processo de desenvolvimento, também é fundamental fazer testes com pessoas com deficiência, para que eles possam vivenciar problemas reais e entender o que pode ser melhorado.

BOX:

#PraCegoVer – A boa prática de acessibilidade que ganhou as redes sociais

A hashtag é uma iniciativa criada pela coordenadora de Educação Especial da Secretaria de Educação da Bahia, Patrícia Braille, para conscientizar e mobilizar pessoas e marcas a inserir a audiodescrição de imagens nos posts das mídias sociais.

Veja algumas dicas para adotar a hashtag:

  • Diga qual é o tipo de imagem: fotografia, cartum, tirinha ou ilustração, por exemplo.
  • Descreva a imagem da esquerda para a direita e de cima para baixo.
  • Informe as cores: por exemplo, se fotografia tem tons de cinza, de sépia, se está em branco e preto. Se a foto for colorida, não precisa informar.
  • Descreva todos os elementos de um determinado ponto da foto e só depois passe para o próximo ponto, criando uma sequência lógica.