Estratégia pode transformar pequenos negócios, permitindo que tenham acesso a recursos e conhecimentos externos para resolver problemas e impulsionar o crescimento
Para as micro e pequenas empresas (MPEs), muitas vezes, inovação é sinônimo de compra de equipamentos e adesão a novas tecnologias. O problema é que esse aspecto nem sempre se traduz em maior competitividade, porque deixa de considerar um fator importante: inovar é desenvolver novos modelos de negócio, produtos, serviços ou processos.
O gerente-executivo de Tecnologia e Inovação da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Naldo Dantas, explica que inovação pressupõe a geração de valor. Cada vez mais, isso se faz a partir da parceria com outras empresas, universidades e centros de pesquisa, para que seja possível criar soluções completas (algo que dificilmente fica concentrado numa só organização). É por meio da colaboração que a inovação aberta acontece.
O principal desafio dos pequenos negócios, segundo ele, é a falta de organização interna. Muitas vezes, processos ineficientes, estoques descontrolados e falta de planejamento dificultam a implementação de qualquer inovação. A solução passa por “arrumar a casa” antes de adotar novas tecnologias ou buscar parceiros para o desenvolvimento de soluções inovadoras. Programas como o Brasil Mais Produtivo oferecem consultorias e treinamentos focados em produtividade e melhoria de processos. No Espírito Santo, empresas participantes têm 40% de aumento médio na produtividade.
Dantas também aponta que, no Brasil, há diversas fontes de fomento à inovação, como editais e programas governamentais que oferecem apoio financeiro e técnico para pequenas empresas desenvolverem e testarem novos produtos. Essas oportunidades permitem que empresários acessem tecnologia de ponta e compartilhem o risco do desenvolvimento.
“A Petrobras abriu recentemente o edital Petrobras Conexões para Inovação – módulo startup [MPEs se enquadram nessa categoria]”, comenta Dantas. As empresas vencedoras podem receber apoio financeiro de até R$ 2 milhões para desenvolverem a solução e, para isso, ainda contam com todos os recursos, ambientes de testes e apoio para escalar os produtos criados no mercado.
O edital recente da Petrobras exemplifica que inovar conjuntamente é um bom negócio e propicia troca de conhecimento valioso para as pequenas empresas. “Não precisa ter 20 pesquisadores na empresa: os institutos Senai têm mais de mil à disposição para executar projetos em parceria. Aqui no estado, oferecemos soluções inovadoras que são customizadas para as necessidades específicas de cada setor industrial”, observa. Os empresários também podem recorrer aos fundos estaduais de amparo à pesquisa e às linhas de financiamento voltadas à inovação.
Mudança de mentalidade
Um dos maiores obstáculos para a inovação aberta é a mentalidade e a cultura dentro das empresas, afirma o gerente de Research da Distrito (plataforma de inovação), Victor Harano. “Muitas vezes, existe um receio em compartilhar informações e conhecimentos com parceiros externos devido ao medo de perda de controle ou propriedade intelectual”, cita. “Além disso, a falta de experiência em colaboração externa e em gerenciamento de parcerias pode gerar obstáculos na implementação efetiva dessa abordagem”.
O investimento em treinamento e capacitação das equipes é o caminho para derrubar essas barreiras e criar um ambiente mais colaborativo. “Para promover a inovação aberta, as MPEs precisam desenvolver uma cultura organizacional baseada em colaboração, flexibilidade e aprendizado contínuo”, argumenta. Outro aspecto é que as parcerias firmadas sejam amparadas por acordos claros de propriedade intelectual e confidencialidade.
Para as organizações que desejam adotar a inovação aberta, o primeiro passo é identificar as áreas onde a colaboração externa pode trazer mais valor. “A empresa deve avaliar seus pontos fortes e as lacunas que precisam ser preenchidas, o que ajuda a direcionar o tipo de parceiros que devem ser buscados”, esclarece Harano. A partir daí, é possível mapear potenciais parceiros (como universidades, outras empresas e centros de inovação) e estabelecer processos de comunicação claros. Projetos-piloto são uma boa maneira de testar essa abordagem antes de avançar para iniciativas de maior escala.