Identificar situações que podem ameaçar as operações e o desempenho da empresa é fundamental para estabelecer planos de ações que reduzam o impacto das adversidades sobre o negócio
Toda atividade econômica está sujeita a riscos que precisam ser mapeados, monitorados e gerenciados. Embora algumas ameaças sejam imprevisíveis, como a pandemia da Covid-19, outras tantas podem ser identificadas previamente, pois envolvem variáveis e dados que estão ao alcance da organização.
Em certa medida, o empresário já conhece alguns riscos que podem afetar o negócio. Quando elabora o planejamento anual, por exemplo, o dirigente procura avaliar como está o cenário econômico para definir estratégias e projetar suas operações. Mas há outros pontos que devem ser observados para que a empresa seja administrada com um nível melhor de previsibilidade.
O doutor em administração de empresas e professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente dos Santos Alves, explica que há diferentes tipos de riscos que podem impactar uma organização e que podem ser divididos em seis dimensões: política, econômica, social, tecnológica, ambiental e legal. Esse grupo forma o acrônimo Pestal e, muitas vezes, uma mesma situação engloba riscos em duas ou mais áreas desse conjunto.
O risco político engloba as decisões relativas às políticas públicas, que podem ser criadas, mantidas ou descontinuadas. No âmbito econômico, enquadram-se questões de mercado e de crescimento da economia.
Quanto ao risco social, Alves esclarece que envolve aspectos culturais e demográficos, como o envelhecimento da população e o comportamento do consumidor. “São coisas que não mudam rapidamente, mas mudam continuamente. Se não perceber isso, depois de cinco ou 10 anos as coisas mudaram e você não acompanhou a transformação”.
A dimensão tecnológica é outro ponto bastante observado na atualidade. “É o segundo tipo de risco mais considerado pelo empresário depois da economia”, descreve. Uma das ameaças, nesse sentido, é a obsolescência tecnológica, que ocorre quando o serviço ou produto que a empresa oferece se torna irrelevante devido ao surgimento de inovações.
Há ainda os riscos ambiental, que envolve o impacto ao meio ambiente, e legal, que diz respeito a leis e obrigações que a empresa deve cumprir, como é o caso da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Alves destaca que o Pestal “é uma divisão didática para sistematizar o raciocínio, mas no mundo real essas áreas não são completamente isoladas umas das outras – elas se conversam”. Para o empresário, essas dimensões ajudam a provocar a reflexão sobre os desafios a serem enfrentados nessas esferas.
Documentar e agir
“O feeling do empresário é muito bom, então ele conhece os riscos estratégicos do seu negócio e eu não tenho dúvida disso”, argumenta a advogada especialista em Gestão e Implantação de Programas de Compliance e professora da FIA Business School, Fábia Cunha. “A questão é que não basta conhecer: ele precisa documentar esses riscos”.
Há uma boa razão para documentar a percepção de riscos: esse cuidado permite ao empresário estabelecer prioridades. Fica mais fácil avaliar quais ameaças são mais iminentes ou podem causar um impacto maior. O registro também favorece a criação de um plano de ação e a transmissão da informação para que as medidas necessárias sejam tomadas no momento certo.
Na prática, a documentação nada mais é do que um mapa de riscos. Trata-se de um investimento, pontua a especialista. “O mapa antecipa a tomada de decisão”, ensina. “Quando o risco se materializa, o gasto necessário é muito maior porque a empresa já foi impactada e terá que corrigir a rota e ainda investir para prevenir que o mesmo risco ocorra novamente”. O custo é muito maior, nesse caso.
Para as micro e pequenas empresas que não fazem a gestão de riscos, existe a opção de contratar uma consultoria ao invés de criar um departamento dedicado a isso. De acordo com a advogada, a empresa especializada tem know-how porque já desenvolveu o serviço para outras organizações.
O mapeamento de riscos feito por uma consultoria deve conter “a indicação do risco, a probabilidade de acontecer, o impacto previsto, os controles existentes e o plano de ação”. A partir dessas informações, a empresa consegue acompanhar os indicadores e pode ter o documento como base para adotar nos anos seguintes.