O futuro da empresa é construído no presente por meio do planejamento estratégico, que deve ajudar o empresário a compreender o contexto atual, estabelecer objetivos e conduzir a organização em direção a eles
Qual é a realidade da sua empresa hoje e o que você projeta para ela no futuro? Conectar essas duas pontas é sempre um desafio, pois é necessário conhecer profundamente a situação presente do negócio e entender até onde ele pode chegar. Essas são as premissas essenciais do planejamento estratégico e, a partir delas, o empresário consegue tomar decisões melhores e traçar planos de ações compatíveis com os projetos que deseja tirar do papel.
“Para crescer, muitas vezes é preciso dar um passo para trás”, ensina o diretor-executivo da T4 Consultoria, Marcelo Viana. A ideia é construir uma base, uma estrutura, capaz de comportar os planos de longo prazo. Essa estruturação começa com o controle da situação financeira do negócio, pois esses dados são indispensáveis para avaliar aspectos fundamentais da estratégia, como o potencial de crescimento da empresa e os custos dos projetos.
O empresário pode contar com apoio para ter melhor domínio dessas informações e desenhar o plano estratégico do negócio. É bem-vinda a visão de especialistas que não fazem parte da organização, como o contador ou um consultor empresarial. Trata-se de um investimento eficiente, pois esses profissionais são experientes para dar suporte à tomada de decisão do empresário e evitar uma série de erros ao longo do processo.
A partir dos dados sobre os resultados atuais da empresa, fica mais fácil desenvolver o planejamento estratégico, que precisa estar bem dimensionado (não pode ser superestimado ou subestimado) e baseado em análise de viabilidade financeira, porque, normalmente, exige financiamento. Outro ponto importante é a comunicação com as equipes, para que o plano seja colocado em prática.
O projeto nasce no nível estratégico e é traçado pela diretoria em conjunto com conselheiros, gestores e consultores, mas é executado nos níveis tático (gerencial) e operacional. Viana destaca que, muitas vezes, o plano não evolui porque aquilo que foi projetado pelos administradores e sócios não foi bem comunicado. Metas, objetivos e propósito do plano estratégico precisam ser transmitidos com clareza. “Se isso estiver muito tangível, muito claro para as pessoas, elas vão realmente incorporar esse plano porque vão estar mais envolvidas”.
Flexibilidade e agilidade
Quem administrou uma empresa ao longo dos últimos três anos vivenciou um período desafiador e marcado por incertezas. Para o sócio de consultoria estratégica da Deloitte, Luiz Caselli, o contexto incerto e de acelerada transformação, como o atual, exige reflexão estratégica. “O ambiente de incerteza é o mais propício para se fazer a reflexão estratégica, até porque é possível pensar de forma mais profunda sobre o caminho e as oportunidades no futuro”, afirma.
Normalmente, o empresário tende a vislumbrar ações de curtíssimo prazo, por estar mais focado em garantir a sobrevivência do negócio e fazer com que as operações se desenvolvam no dia a dia. Da mesma forma, busca economizar mais e ganhar eficiência. Essa é a lição de casa, que precisa ser bem-feita. Em paralelo, é possível projetar voos maiores, combinando ações presentes com a estratégia de médio e longo prazo.
Caselli reforça a importância de olhar para as oportunidades. Em cenários como o atual, há perspectiva de crescimento inorgânico dos negócios, por meio de fusões e aquisições. Comprar uma empresa, uma carteira de clientes ou lojas é algo viável para organizações que estão em condições de fazer esse tipo de investimento. Mas o consultor ressalta que, nem sempre, os projetos estratégicos para o negócio exigem grandes aportes financeiros. É essencial ficar atento às oportunidades e analisar como podem ser aproveitadas de forma eficiente.
Identificar novas possibilidades e criar um plano de ação consistente com o propósito que se pretende atingir requer profundo entendimento do cenário. “O primeiro passo é investir em conhecer o seu cliente, o seu negócio e o ecossistema no qual ele está inserido”, recomenda Caselli. Parece algo simplista? Nem tanto: o empresário nem sempre consegue fazer esse tipo de reflexão.
“Algo importante para todas as empresas é criar momentos para pensar sobre a estratégia; dedicar duas horas para fazer essa reflexão”, pondera a líder de Estratégia, Analytics e M&A da Deloitte, Venus Kennedy. “O que está funcionando?
Aonde queremos chegar e quais passos precisamos seguir para alcançar esse objetivo? Quem são as pessoas que vão focar nesses pontos de desenvolvimento?”
O diagnóstico deve estar baseado em dados quantitativos e qualitativos para que o empresário consiga tomar as melhores decisões. “É importante que o processo de reflexão seja feito e que, ao final, tenham-se cuidados para fazer a implementação do plano estratégico de maneira flexível, permitindo adequações no meio do caminho”, argumenta Caselli.
Flexibilidade e agilidade são atributos que devem estar vinculados à estratégia. Kennedy defende que o empresário adote uma cultura de fail fast. “Vamos tomar decisões baseadas em dados e bem planejadas, mas se implementamos e não está dando certo, adaptamos o mais rápido possível”, esclarece. No decorrer dessa jornada, os erros não devem resultar em punições, mas sim em aprendizados, para que a empresa corrija falhas e acerte na próxima tentativa. Dessa forma, a organização cria uma cultura de inovação.
O empresário deve construir o melhor planejamento possível de ser colocado em prática, buscando a máxima eficiência. Por isso é tão importante entender o cenário atual e as perspectivas de futuro. Assim, a empresa será direcionada para as ações com maior potencial para gerar resultados.
Ao implementar o plano, outro cuidado é necessário: monitorar indicadores para entender o que está funcionando e o que precisa ser corrigido. A flexibilidade e a agilidade vêm dessas análises. Diferentemente do cenário externo, que é imprevisível, os dados sobre o próprio negócio estão ao alcance do empreendedor e devem ser controlados por ele.