Boas práticas ambientais, sociais e corporativas – trio que forma a sigla, em inglês, ESG – estão ao alcance de todas as organizações, mas dependem de controle, como o que se volta para o impacto sobre o meio ambiente.
Para muitas empresas, sobretudo as de micro e pequeno porte, a área ambiental pode ser o primeiro passo rumo às políticas ESG. Além de concentrar preocupações com mudanças climáticas e outras formas de degradação ecológica, levando grandes companhias já alinhadas ao ESG a adotarem critérios rígidos de seleção de fornecedores, a questão ambiental também está associada à redução de custos, decorrente do uso consciente dos recursos naturais.
“Algumas empresas se anteciparam por diretriz de governança e outras vão se adaptando a partir do momento que as grandes companhias estendem suas políticas ambientais aos fornecedores e parceiros de negócios”, comenta o advogado especializado em Direito do Ambiente e Direito dos Resíduos, Fabricio Soler, que atuou na implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e da Lei de Saneamento Básico.
De acordo com Soler, uma empresa pode ter uma pegada ambiental positiva relacionada a diferentes questões, como recursos hídricos, consumo de água, balanço da emissão de carbono, florestal, descarte de resíduos, ecoeficiência, entre outros.
A consultora ambiental da Empresa Júnior de Engenharia e Arquitetura dos Alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC jr), Natália Carvalhinho Windmöller, cita que a pegada de carbono (CO2) tem ganhado destaque e está relacionada com a produção ou captura de CO2 (que provoca mudanças climáticas globais). As empresas com práticas nessa área conseguem participar do mercado de carbono, baseado na compra e venda de créditos de CO2 (certificados que atestam a redução das emissões).
O alinhamento às grandes empresas, a retração de custos e a possibilidade de obter retorno financeiro com a venda de créditos de carbono são exemplos dos benefícios que as iniciativas ambientais podem gerar para empresas. Além disso, atuar em conformidade com as legislações ambientais é o básico que deve, obrigatoriamente, ser observado.
Para Soler, o que fica mais evidente é o diferencial competitivo para as empresas que conseguirem apresentar uma pegada ambiental positiva. “Isso naturalmente abre novas oportunidades ou, ao menos, mantém essas organizações no mercado em que estão estabelecidas”.
Da mensuração à prática
O processo de adequação à governança ambiental exige ações bem estruturadas, que começam com a identificação dos impactos negativos e positivos que a empresa provoca no meio ambiente. Essa análise vai revelar quais são as melhorias necessárias e se já há alguma ação sustentável sendo realizada.
Embora essa análise possa ser feita internamente, a recomendação para empresas que não possuem uma área dedicada à gestão ambiental é buscar o apoio de uma consultoria especializada e multidisciplinar, que vai observar a pegada ambiental a partir de diferentes aspectos. Dependendo da realidade da empresa, é viável que tenha ao menos um analista ambiental para responder por esse tema dentro da organização.
Um dos primeiros aspectos a ser observado nesse processo é se o licenciamento da empresa está em dia. “É importante ficar de olho na data de renovação e se atentar a possíveis adequações caso a empresa cresça”, avisa Windmöller. Outro aspecto obrigatoriamente avaliado é o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) – que, dependendo da área de atuação, pode ser exigido até mesmo de pequenos negócios.
A partir daí, todos os processos produtivos, administrativos e de serviços da empresa são avaliados a fim de identificar “melhorias e alternativas sustentáveis”, salienta Windmöller. Com base nesse trabalho é construída a política ambiental da empresa, documento que registra, entre outras informações, quais metas devem ser atingidas. Dessa forma, se estabelece um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em linha com a norma ISO 14001.
“Avaliações mais profundas, como a Análise do Ciclo de Vida (ACV) ou o inventário de carbono, enriquecem esse processo e, assim como a política ambiental com metas, permitem que a empresa obtenha selos verdes e certificações para comprovar seus valores sustentáveis”, esclarece Windmöller.