A preocupação com questões ambientais, sociais e de governança (em inglês, environmental, social and governance) colocou a sigla ESG em evidência e está remodelando os valores empresariais.

Num mundo que sente os efeitos das mudanças climáticas e que passa por profundas transformações sociais, o papel das empresas não pode se restringir ao seu próprio negócio. Assim a sociedade tem entendido o impacto das organizações nas comunidades onde estão inseridas e isso tem impulsionado as iniciativas voltadas à sustentabilidade.

Por representar parte desses esforços, a sigla ESG ganha cada vez mais projeção no universo corporativo. “ESG é o termo em inglês para as questões Ambientais, Sociais e de Governança (Environmental, Social and Governance)”, explica o coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (Ceds) e ganhador do Prêmio Jabuti com o livro 101 dias com ações mais sustentáveis para mudar o mundo, Marcus Nakagawa. “É a forma de a empresa realizar a sua gestão sem se pautar só pela questão financeira, mas também considerando esses focos”, resume.

A diretora-adjunta do Instituto Ethos, Ana Lúcia Melo, contextualiza que a agenda ESG surgiu das “discussões de investidores e outros agentes do mercado financeiro sobre como esses aspectos (ambientais, sociais e de governança) poderiam ser incluídos na avaliação das companhias e gerar, consequentemente, mercados mais sustentáveis”.

Gestão de riscos e de valor

Embora muito associado ao impacto positivo que a empresa pode promover em seu entorno, o ESG promove benefícios sobretudo para as organizações que o adotam. Melo destaca duas vantagens principais: a proteção do próprio negócio e a capacidade de geração de valor. “Empresas que administram seus negócios a partir de uma visão de conduta empresarial responsável e que seguem boas práticas de governança, sociais e ambientais são consideradas mais resilientes e menos sujeitas a perder valor de mercado, porque normalmente antecipam a compreensão de seus riscos e impactos e conhecem as expectativas dos stakeholders”, afirma. “Com todo esse conhecimento, elas tendem a lidar melhor com mudanças no ambiente externo ou crises”.

Nakagawa acrescenta que, além de diminuir riscos para o negócio, as ações ESG contribuem para “gerar uma melhor reputação, alavancar e desenvolver novos produtos e serviços mais sustentáveis”. Ao escolher esse caminho, a empresa passa a ser reconhecida pelo comprometimento com as demandas da sociedade e por praticar sua atividade econômica sem causar danos ao planeta ou às pessoas – conduta indispensável para conquistar um mercado consumidor cada vez mais consciente e exigente.

A mudança de postura em relação às questões ESG já afeta a decisão de compra do consumidor. Nakagawa cita dados de estudos recentes da consultoria McKinsey indicando que 60% dos entrevistados fizeram mudanças significativas de estilo de vida em relação ao seu impacto para o meio ambiente. Outros 85% afirmaram que se sentem melhor comprando produtos mais sustentáveis. Entre consumidores da geração Z, 84% disseram que param de comprar de empresas envolvidas em escândalos sociais, éticos e ambientais.

Como essa nova postura deve ganhar mais adeptos a cada dia, a demanda por empresas comprometidas com a sustentabilidade só tende a crescer e as que se anteciparem à tendência ganharão diferencial competitivo. “Ao adotar práticas compatíveis com o desenvolvimento sustentável antes de ser demandada, a empresa consegue construir um diferencial em relação ao que o mercado oferece”, pondera Melo.

Mudanças desse tipo estão ao alcance de qualquer companhia, considerando que todas têm uma estrutura de governança (modelo de direção e administração) e geram impactos socioambientais. O caminho, segundo a diretora-adjunta do Instituto Ethos, é “compreender quais são seus riscos e estabelecer práticas que sejam compatíveis com o desenvolvimento sustentável e com aquilo que é expectativa de seus stakeholders”.

No caso dos pequenos e médios negócios, o comprometimento pode abrir as portas para que consigam entrar na cadeia de valor de “grandes empresas interessadas em garantir que seus fornecedores não tenham problemas ou riscos associados ao ESG”, reforça Nakagawa.