Efeitos da adoção da IFRS 16 nos indicadores de desempenho de entidades arrendatárias

Com a recente alteração na norma que trata sobre o arrendamento mercantil, a IFRS 16 substitui a IAS 17 e trouxe como novidade que todas essas operações serão reconhecidas no balanço patrimonial do arrendatário, sendo registrado um passivo para pagamentos futuros e um ativo intangível para o direito de uso. Além disso, a mudança na contabilização dos arrendamentos irá gerar despesas operacionais e financeiras e, dessa forma, a alteração na forma de classificação da despesa de arrendamento aumentará o EBITDA, bem como o fluxo de caixa operacional.

No Brasil a norma entrará em vigor somente em janeiro de 2019, mas antes disso, as companhias precisarão coletar dados significativos sobre os seus arrendamentos e realizarem novos cálculos e estimativas, o que poderá trazer certo custo para a sua aplicação. Para outras empresas, predominarão questões que demandam maior julgamento, como, por exemplo, a identificação de quais transações contêm arrendamentos e, portanto, será necessário aplicar a norma.

Conforme Torres e Olmedo (2017), o objetivo da IFRS 16 é reduzir a necessidade para os investidores e analistas de realizarem ajustes nos valores informados por contratos de arrendamento, melhorar a comparabilidade das informações e criar condições adequadas para gerar a informação financeira com total transparência sobre os acordos de arrendamento para todos os participantes no mercado.

Por ser uma alteração recente ainda carece de estudos empíricos que analisem os efeitos da aplicação desta norma, mesmo no âmbito internacional. No entanto, alguns estudos já têm analisado os efeitos patrimoniais, no resultado do exercício e nos indicadores de desempenho, havendo expectativa de que essa mudança seja significativa nesses parâmetros.

Uma alteração dos valores divulgados na demonstração financeira, implicitamente resultará em efeitos nos indicadores financeiros determinados com base nestes dados contábeis. Assim, o endividamento (passivo/PL), a liquidez corrente e o giro do ativo diminuirão, enquanto os indicadores de rentabilidade EBITDA e EBIT aumentarão.

A pesquisa de Sari, Altintas e Tas (2016) examinou o efeito da capitalização do arrendamento em demonstrações financeiras e os índices financeiros das empresas do setor varejista listadas na Bolsa de Valores de Istambul entre 2010 e 2013. Os resultados do estudo indicam que o novo padrão terá um efeito estatisticamente significativo em alguns dos índices financeiros testados (dívida/ativo, dívida/patrimônio líquido, retorno sobre ativos (ROA) e retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE)).

Já o estudo de Arrozio, Gonzales e Silva (2016) mostrou que os resultados obtidos por meio dos indicadores de Liquidez, Endividamento e de Alavancagem, calculados com base nas demonstrações financeiras exclusivamente das empresas de atacado e varejo publicadas em 2015 no Brasil e nas demonstrações ajustadas conforme notas explicativas, possuem impacto significativo na estrutura patrimonial dessas companhias. Revelaram ainda um aumento no nível de endividamento, na alavancagem financeira e queda na liquidez, observados pelo reconhecimento de novos ativos e passivos.


Autores: Colares, Gomes, Bueno e Pinheiro (2018)

Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade – v. 8, n. 2, p. 46-65, mai./ago. 2018
ISSN 2238-5320, UNEB, Salvador/BA

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