Motivados e com habilidades socioemocionais bem desenvolvidas, profissionais mais velhos podem tornar os ambientes de trabalho mais produtivos e favorecer o clima organizacional
A geração 50+ tem se revelado como uma solução estratégica para empresas que, cada vez mais, enfrentam desafios para atrair e reter talentos. Ao contrário dos estigmas do passado, que associavam essa faixa etária à aposentadoria e à dificuldade em lidar com novas tecnologias, os profissionais com mais de 50 anos de hoje buscam ativamente continuar contribuindo para o mercado de trabalho.
Dados recentes apontam para esse movimento nas empresas. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2024, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, pessoas com idades entre 40 e 59 anos foram responsáveis pela maior parte das novas vagas formais no setor privado. A faixa etária de 40 a 49 anos acumulou 491,4 mil postos de trabalho, enquanto a de 50 a 59 anos conquistou 418,6 mil vagas.
O fundador e CEO da Maturi, plataforma especializada em inclusão de profissionais 50+, Mórris Litvak, observa que os principais preconceitos enfrentados por essa geração envolvem a percepção de que as pessoas teriam dificuldade de adaptação à tecnologia e à inovação. “Muitas empresas ainda acreditam erroneamente que pessoas mais velhas não se encaixam em ambientes inovadores e dinâmicos”, afirma Litvak. No entanto, ele alega que a realidade é bem diferente: “Essa geração hoje é ativa e está conectada com a tecnologia”.
Além disso, o mito de que pessoas 50+ não conseguem aprender novas competências tem sido revisto. A professora da área de Psicologia Organizacional e do Trabalho da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP), Thais Zerbini, esclarece: “Não é verdade que pessoas 50+ têm dificuldade em aprender competências novas. A aprendizagem depende muito dos objetivos e das estratégias de ensino adotadas, que precisam ser adequadas para essa faixa etária”.
Experiência e inteligência artificial
As soft skills, ou competências socioemocionais, são outro diferencial importante dessa geração. Zerbini destaca que, ao longo dos anos, os profissionais 50+ desenvolveram habilidades como empatia, tolerância a diferentes opiniões, capacidade de lidar com frustrações e colaboração em equipe. Integrar profissionais mais jovens com essa geração mais experiente pode gerar um ambiente mais cooperativo do que competitivo, criando uma troca rica de experiências.
A especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho explica ainda que colocar os profissionais 50+ em posições de liderança dentro da equipe, transmitindo sua experiência para os mais jovens, pode representar uma vantagem estratégica para as empresas.
“Hoje, lidamos com novas tecnologias digitais e inteligência artificial. O que nos diferencia dessas ferramentas é justamente o pensamento crítico, por meio de associações de experiências passadas com as novas. Essa é uma contribuição importante que a geração 50+ pode trazer”, argumenta Zerbini.
Litvak completa: “Os profissionais 50+ têm resiliência, responsabilidade, maturidade emocional e experiência de vida, o que contribui diretamente para tomada de decisões mais equilibradas e estratégicas nas organizações”.
A relação intergeracional, quando bem aproveitada, pode ser um motor de inovação e contribuir para a melhora do clima organizacional, com maior retenção de talentos e fortalecimento da marca empregadora. Litvak sugere que as empresas revisem seus processos seletivos para eliminar vieses etários, focando em competências, resultados e na capacidade de aprendizado contínuo.
Além disso, o especialista considera que a liderança desempenha um papel crucial na inclusão de profissionais 50+. Para garantir o sucesso dessa adaptação, os gestores precisam receber treinamento sobre diversidade etária, combate ao etarismo, comunicação adaptada e práticas para promover a integração geracional.