
Situações complexas fazem parte do dia a dia de trabalho. O que diferencia uma empresa é a capacidade de orientar as pessoas para tomar decisões de forma íntegra e preservar sua reputação
Mais do que políticas escritas, o que protege a reputação de uma empresa é o comportamento diário de quem a representa. A confiança é construída nas atitudes, e ela pode se perder em um único gesto.
“Uma decisão antiética ou negligente pode anular anos de investimento em credibilidade e valor de marca”, alerta a consultora e professora de Ética Organizacional e Governança e fundadora da Evolure Consultoria, Claudia Pitta Pinheiro.
Em um mercado cada vez mais pautado pelas metas de ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança, em português), agir com negligência não é apenas um erro moral, mas uma decisão que compromete a longevidade e a competitividade do negócio. “A integridade se estabelece como o verdadeiro divisor de águas entre a marca duradoura e a marca descartável”, ressalta a professora da FGV Educação Executiva e agente de Compliance, Elise Brites.
Reflexão contínua
A ética não é um conceito abstrato. Ela se manifesta ao lidar com um cliente insatisfeito, ao compartilhar informações internas ou ao presenciar uma falha do colega. Saber o que fazer nesses momentos é o que diferencia empresas que apenas falam de integridade daquelas que realmente a praticam.
Segundo Pinheiro, a afinidade entre discurso e prática é o primeiro passo para formar equipes éticas. “Não há treinamento que resista se o colaborador percebe contradição entre o que a empresa diz e o que faz”, adverte.
Esse aprendizado ético não deve ocorrer apenas em momentos de crise. O ideal é que as empresas ofereçam espaços de reflexão contínua, em que os profissionais possam discutir situações reais e compreender as consequências de cada escolha.
Exemplos do dia a dia
Brites reforça que os códigos de conduta são ferramentas fundamentais, mas, sozinhos, não garantem a adoção de comportamentos éticos. Para ela, o documento deve ser apresentado como um guia prático. “É preciso traduzir o código em exemplos do dia a dia, mostrando o que é aceitável e o que fere os princípios da empresa”, diz.
Segundo a especialista, uma das formas mais eficazes de consolidar essa compreensão é incluir dilemas reais nos treinamentos. Situações simuladas ajudam a equipe a lidar com conflitos de interesse e decisões sob pressão.
O papel da liderança
Os líderes são os principais influenciadores do comportamento ético dentro da empresa. Quando o gestor assume a responsabilidade pelas próprias ações e comunica abertamente suas decisões, ele envia uma mensagem clara de integridade à equipe.
Liderar de forma ética é mais do que seguir normas: é promover um ambiente de confiança e diálogo. “As pessoas precisam sentir que podem falar sobre dilemas e pedir orientação sem medo de punição”, esclarece Pinheiro.
Além disso, a professora explica que reconhecer atitudes éticas é tão importante quanto punir desvios. A valorização das boas práticas estimula o engajamento e ajuda a consolidar a cultura desejada.
Quando os valores da empresa são vivenciados no cotidiano, o alinhamento entre propósito e ação fortalece o vínculo dos colaboradores com a organização. Esse sentimento de pertencimento reduz tensões, melhora o ambiente de trabalho e tende a diminuir a rotatividade.
Jornada profissional
Treinar a equipe para agir eticamente não é algo que se faz com um evento ou campanha pontual; deve ser um processo contínuo, alinhado à evolução do negócio.
A ética precisa ser tratada como competência essencial, desenvolvida em todas as etapas da jornada profissional.
Para manter esse aprendizado vivo, é preciso atualizar constantemente as práticas de capacitação. “As empresas que revisitam seus valores e adaptam seus programas de integridade mostram maturidade e permanecem relevantes”, afirma Brites.
