Inovar é algo que está ao alcance de qualquer empresa – dos grandes negócios digitais às pequenas organizações familiares– porque envolve mais uma visão cultural do que adesão à tecnologia de ponta

O ambiente de negócios está mais dinâmico do que nunca e a forma acelerada como as mudanças acontecem faz com que a inovação seja mais do que um diferencial competitivo. Hoje, ser capaz de inovar é determinante para que as empresas se adaptem rapidamente a novos contextos – que, preferencialmente, sejam criados por elas mesmas.

Nem sempre a inovação está ligada a uma transformação radical dos negócios. O professor e coordenador acadêmico da Fiap, Cláudio Carvajal, lembra que “a inovação consiste em criar algo novo, mas não necessariamente inédito”. Na prática, muitas organizações fazem isso com relativa frequência, quando melhoram o que já existe. É a chamada inovação incremental, que ocorre, por exemplo, quando se busca aprimorar um produto que já existe no mercado, “incluindo novos atributos de valor”, pontua o professor.

A inovação incremental é menos arriscada, o que pode ser um estímulo para as empresas que querem se tornar mais inovadoras e não sabem por onde começar. “De tempos em tempos, no entanto, às vezes o mercado exige uma inovação mais ousada. Essa é a inovação radical, ou disruptiva”, continua Carvajal.

Na disrupção, a empresa sente que precisa gerar uma inovação que mexe mais profundamente com seu modelo de negócio. Nesse caso, eventualmente, é necessário contar com tecnologias ainda desconhecidas e com um know-how que a organização ainda não tem. “Então, nesse momento, obviamente, aumenta-se o risco de você fazer essa mudança, mas, muitas vezes, é necessário, porque se você não fizer, a concorrência vai fazer”.

Para manter a chama da inovação sempre acesa, muitas empresas, sobretudo as grandes companhias, têm investido no intraempreendedorismo, também chamado de empreendedorismo corporativo. Ou seja, elas começam a construir uma cultura de inovação, na qual todas as pessoas são estimuladas a trazerem novas ideias, das incrementais às disruptivas.

A boa notícia é que você não precisa estar à frente de uma big tech para fazer isso dentro da sua própria empresa. Carvajal ressalta, inclusive, que pequenas empresas são beneficiadas por terem uma estrutura que dá mais agilidade aos processos. “Cada organização precisa criar seu próprio framework de transformação digital”, afirma.

Cultura da inovação

A inovação é bastante desafiadora por uma série de fatores. Além dos riscos envolvidos, ela exige das empresas uma característica muito particular: a ambidestria. O escritor, palestrante e professor de criatividade, Marcelo Pimenta, explica que há uma tensão entre equilibrar a excelência operacional, relacionada aos processos já instituídos, e reinventar esses mesmos processos. “A gente vem trabalhando com um conceito que chama ambidestria, ou seja, você precisa estar com as duas mãos funcionando. Uma mão representando a excelência operacional para manter o processo atual e outra para pensar o novo processo”.

Nas grandes empresas, os laboratórios de inovação e ações como hackatons e bootcamps têm se tornado comuns. Essas estruturas criam ambientes para gerar a transformação e, até mesmo, para errar sem medo. Ao inovar, o erro não deve ser visto como falha a ser repreendida. Pelo contrário, é necessário reconhecer a iniciativa, entendendo que, quando se busca o novo, há espaço para errar – o que não se confunde com as atividades corriqueiras e que devem ser realizadas com a qualidade esperada.

Assimilar essa cultura é algo possível para empresas de qualquer porte. “Nas pequenas empresas, o importante é ter uma gestão cada vez mais horizontal”, observa Pimenta. O objetivo é fazer com que as pessoas possam contribuir para a inovação. “A melhor forma de incentivar a cultura de inovação em uma pequena empresa é ter essa gestão colaborativa, em que todos ficam sabendo dos principais processos e que podem contribuir para a melhoria deles através de sugestões”.

Para começar, a empresa pode estruturar desafios, além de estabelecer momentos e canais apropriados para a inovação, bem como incentivos às boas ideias. O fundamental é dar abertura para que todas as pessoas possam participar e contribuir de forma contínua.