Entender conceitos contábeis vai ajudar você a passar pelos desafios que o momento econômico impõe e a fazer escolhas mais conscientes.

Gastos, custos, despesas e investimentos são coisas diferentes

Os termos mudam dependendo da finalidade do produto ou serviço consumido e do impacto que cada um terá no orçamento. Para começar, gasto é qualquer bem ou serviço adquirido. Custos são os gastos para a produção de outros bens ou serviços.

Por exemplo, a matéria-prima a ser usada na fabricação de um produto é um custo.

Já as despesas são os gastos frequentes com a estrutura comercial e administrativa do seu negócio. Podem contemplar desde aluguel até itens de limpeza, passando pelo veículo da empresa e pelos serviços de manutenção. O investimento, por outro lado, é o gasto feito com objetivo de gerar benefícios futuros, como a compra de um maquinário para aumentar a produção.

Gastos fixos e variáveis também guardam peculiaridades

O gasto fixo compreende os custos e as despesas que não se alteram pelo volume de produção ou de vendas. Já o gasto variável diz respeito aos custos e despesas que mudam mediante o volume de produção ou de vendas. O salário do vendedor, por exemplo, é um gasto fixo. Mas a comissão que ele recebe pelas vendas é um gasto variável. Água e internet são gastos fixos, embalagens são gasto variável. Material de escritório é gasto fixo, enquanto a matéria-prima consumida é incluída no grupo de gastos variáveis.

… assim como custo direto e indireto

Custos diretos são os gastos relacionados diretamente à produção do bem ou serviço. Como a mão de obra, matéria-prima e insumos utilizados. “Já os custos indiretos são os gastos necessários na linha de produção, mas que não têm relação imediata com a produção do bem ou serviço. Como os funcionários da manutenção dos equipamentos ou do almoxarifado; material de lubrificação ou de limpeza”, explica a planejadora financeira da MeiConsulte, Leila Matajs.

Na hora do corte, é melhor reduzir gasto fixo

O gasto variável, como explicado, vai diminuir, automaticamente, com a queda nas vendas. “A redução será mesmo necessária no custo fixo, porque, quando ocorre a diminuição do volume quantitativo de vendas dos produtos, o valor do custo fixo final unitário aumenta”, esclarece Matajs. Veja o exemplo na tabela abaixo:

Quantidade Custo médio variável unitário Custo fixo: RS 200 mil Custo final unitário
1.000 R$ 50,00 R$ 200,00 R$ 250,00
1.500 R$ 50,00 R$ 133,33 R$ 183,33
1.900 R$ 50,00 R$ 105,26 R$ 155,26

Folha de pagamento pede redução com cautela

Para o professor do curso de mestrado em administração da Universidade Grande Rio, Josir Simeone Gomes, o corte na folha de pagamento, embora eficiente para aliviar o orçamento, deve ser a última opção do empresário. “Porque é o capital intelectual das organizações”, diz. “A demissão sem critério traz transtornos enormes de custos e de aprendizagem”, acrescenta. Gomes recomenda começar a analisar a folha de pagamento pelos funcionários que dão apoio à produção, como diretor industrial, gerentes de produção, mestres, encarregados, vigilantes da produção, assessores e assistentes. “Temos que analisar os salários mais encargos desses colaboradores com outras empresas do mesmo ramo de atividade, para verificar se podemos cortar funcionários ociosos. Caso não seja possível, a solução é tentar um acordo de redução de salário a partir de uma pesquisa do custo de remuneração dos concorrentes”, orienta. Feito isso, o próximo passo é analisar os salários e os encargos da administração (pessoal, gerais, finanças), utilizando o mesmo critério.
Aprenda a analisar se o investimento ainda é válido

Se estiver na dúvida sobre a pertinência de colocar dinheiro em determinado setor, a recomendação do professor é sempre recorrer à porcentagem de retorno mínimo estabelecida ao abrir a empresa. “A margem líquida deve ser maior ou igual ao que está sendo oferecido pela taxa Selic para títulos do Tesouro Nacional. Caso contrário, não é interessante para o empresário”, afirma.

Controle de gastos deve ser política constante

A empresa deve ter um sistema de administração de gastos contínuo e não vinculado às crises cíclicas. “O controle deve ser mensal ou trimestral. Também é preciso ter um plano de ação estabelecido (anual e de longo prazo), de forma a confrontar o realizado com o previsto ou planejado”, aconselha Gomes.