
Na virada para um ano marcado por incertezas econômicas, reforma tributária e eleições, especialistas apontam os principais riscos e as estratégias que podem ajudar as empresas a se manterem competitivas
Em 2026, os empresários brasileiros vão se deparar com um cenário de múltiplos desafios. A economia deve continuar operando em ritmo moderado, com juros elevados e crédito restrito. Ao mesmo tempo, o início da fase de testes da reforma tributária e o calendário eleitoral exigirão atenção às mudanças. Nesse contexto, planejamento e eficiência serão os pilares da sobrevivência e do crescimento.
O professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Ahmed El Khatib, projeta um ano de desenvolvimento modesto. Ele esclarece que o Produto Interno Bruto (PIB) deve avançar em torno de 1,5%, reflexo de um ambiente de transição após o aperto monetário. “A taxa Selic deve iniciar uma trajetória de queda gradual, mas continuará em patamar elevado o suficiente para restringir o crédito e desestimular investimentos de maior risco”, explica.
Para as pequenas e médias empresas (PMEs), trata-se de um contexto delicado. “Cada ponto percentual nos juros afeta diretamente a capacidade de investir e expandir. Será um ano de sobrevivência inteligente, em que eficiência, inovação e gestão financeira disciplinada pesarão mais do que o tamanho ou a tradição da empresa”, pondera El Khatib.
O professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, Diego Marconatto, acrescenta que a combinação de juros altos, aumento de custos e volatilidade política tende a manter a economia em compasso de cautela. “Esses fatores exigirão das empresas uma gestão mais atenta e disciplinada, com foco no equilíbrio do caixa e na capacidade de aproveitar oportunidades que surgirem em meio às transformações”, afirma o especialista em estratégia de crescimento empresarial.
Reforma tributária e ano eleitoral
Além das questões macroeconômicas, o ano de 2026 vai marcar o início da fase de testes da reforma tributária, que substituirá gradualmente os atuais tributos sobre consumo pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).
De acordo com a assessora jurídica da FecomercioSP e mestre em direito tributário, Sarina Manata, o próximo ano será decisivo para as empresas. “A fase de testes da reforma tributária exigirá ajustes técnicos e aprendizado. O primeiro passo é compreender as regras e os impactos dos novos tributos, mapear as áreas mais afetadas e promover a capacitação das equipes envolvidas”, recomenda.
Apesar dos desafios operacionais, Manata destaca que a reforma também cria oportunidades. “Embora traga mais complexidade e custos de adaptação em um primeiro momento, ela representa uma chance de modernizar a gestão fiscal e aprimorar processos. O novo sistema promete mais transparência, previsibilidade e simplificação, fatores que podem fortalecer a competitividade de quem se antecipar, investir em planejamento tributário e formar as equipes”, avalia.
A especialista comenta que o fim da substituição tributária e a valorização de políticas de incentivo trabalhista podem abrir espaço para ganhos de produtividade e fortalecimento da reputação corporativa. Isso porque passam a ser dedutíveis despesas como vale-transporte, vale-alimentação, plano de saúde e bolsas de estudo.
O ambiente político também deverá influenciar o ritmo dos negócios. El Khatib observa que anos eleitorais costumam trazer incertezas. “Gastos públicos maiores podem estimular o consumo no curto prazo, mas também pressionar a inflação e prolongar os juros elevados”, analisa.
Segundo Marconatto, a volatilidade e a insegurança econômica devem se acirrar devido ao cenário eleitoral e às medidas tomadas pelo governo, que podem comprometer o equilíbrio fiscal.
Diferencial competitivo
Com tantos fatores externos em jogo, a excelência na gestão será elemento decisivo para as PMEs em 2026. A professora da Fundação Dom Cabral e coordenadora do Centro de Inteligência de Médias Empresas (Cime), Áurea Ribeiro, recomenda atenção redobrada ao caixa e ao controle dos custos operacionais. “Em tempos de juros elevados e instabilidade, liquidez é um ativo estratégico. Garantir reservas financeiras é fundamental para atravessar períodos de retração sem comprometer a operação”, ressalta.
A especialista defende que as empresas invistam em maturidade gerencial e atenção ao uso de dados na tomada de decisão. “O avanço nesse campo cria bases para atitudes mais racionais e favorece a adaptação a ambientes incertos. Empresas devem estruturar suas decisões em informações concretas e análises preditivas”, diz.
Revisar o portfólio de produtos e serviços também é essencial. “As empresas precisam avaliar se há formas de redirecionar recursos para atividades mais rentáveis ou segmentos com maior potencial de retorno, evitando dispersão de esforços e capital em áreas de baixa performance”, orienta Ribeiro.
Planejar para se antecipar
A capacidade de se antecipar aos desafios será o diferencial das empresas mais bem-sucedidas. El Khatib dá a receita: “O ponto de partida é conhecer detalhadamente a estrutura de custos e rentabilidade. Em seguida, planejar o orçamento de 2026 de forma conservadora, com reserva de segurança e flexibilidade operacional”.
Na avaliação de Ribeiro, o empresário que investir em conhecimento, em disciplina e em tecnologia estará mais preparado para o que vem pela frente. As empresas que agirem agora com prudência e estratégia terão melhores condições de enfrentar os desafios de 2026 e de se posicionar de forma sólida para o futuro. “O cenário pode ser desafiador, mas, como ocorre nas crises mais severas, também será fértil para quem souber combinar resiliência e agilidade”.
Onde estão as oportunidades em 2026
1. Modernização tributária
A fase de testes da reforma deve trazer custos e desafios, mas também a chance de atualizar sistemas, integrar processos e preparar equipes.
2. Uso de dados
Fortalecer procedimentos internos e adotar decisões baseadas em dados aumenta a previsibilidade e reduz riscos. A maturidade gerencial será um diferencial competitivo.
3. Novos nichos
Mudanças no cenário econômico abrem espaço para quem se movimenta rápido. Empresas que acompanham as transformações do mercado, testam novos modelos de negócio e se adaptam com agilidade tendem a se fortalecer.
4. Diversificação
A volatilidade internacional e as alterações tarifárias exigem atenção redobrada das empresas exportadoras. Diversificar mercados e gerenciar riscos cambiais aumenta a estabilidade e amplia as oportunidades de negócio.
